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Sobre viagens, saudade e a casa que deixei pra trás

Afinal, quando você ama tantos lugares, onde é realmente é o seu lar?

Estela

Abr 16, 2020

5min

Questionamentos sobre viajar e estar longe de casa

Quando o avião pousou no aeroporto de Guarulhos no último dia 15, fazia quase dois anos que eu tinha saído do Brasil e a saudade batia no meu peito como nunca. 

Mas enquanto todos apertavam os cintos para iniciar o pouso, a única coisa que passava pela minha cabeça era "será que eu vou conseguir me sentir em casa outra vez?".

Minha história fora do país começou com um término ruim, uma demissão inesperada e uma vontade enorme de transformar minhas viagens de férias em um estilo de vida. 

Eu já não me via mais seguindo aquela rotina pacata de sempre e tirar um ano sabático me pareceu a decisão perfeita para recomeçar, ainda que o medo e a ansiedade tivessem se escondido na minha mala e decidido ir junto comigo sem nem perguntarem minha opinião. 

Tudo foi decidido em mais ou menos um mês e, quando eu me dei conta, já estava embarcando numa viagem que mudaria completamente a minha vida. 

É impossível descrever tudo o que vivi nesse ano; foram tantos aprendizados, experiências, realizações, risos e lágrimas que seria impossível transmitir esses sentimentos com clareza ou precisão. 

Além disso, existem milhares de textos dizendo o quanto viajar é incrível, transformador, necessário e eu tenho certeza de que não preciso te convencer de fazer suas malas agora mesmo e iniciar a sua jornada. O que eu realmente preciso dizer é o quanto o fim da minha viagem significou mais do que o começo dela. Foi no fim que eu decidi que não iria mais voltar pra casa. 

Em março de 2018 dei entrada nos papéis necessários, fechei as malas e me mudei oficialmente para Madri, na Espanha. Comecei a busca por quartos para alugar, por emprego, por professores de espanhol, por novos amigos. Mais do que isso, comecei a busca por uma felicidade que eu achava que estaria ali me esperando de braços abertos, mas quem me abraçou com toda a força e não soltou mais foi a danada da saudade.

É óbvio que viver no exterior, seja na estrada ou fixo em algum lugar, tem milhares de vantagens. Eu amo a liberdade que tenho e a segurança incomparável de viver na Europa. Amo a facilidade de viajar para diversos países por preços risíveis aos finais de semana. 

Em alguns dias, o sol brilha tanto pra mim que só me falta sair dançando pela rua e cantando sobre como a vida é linda, bem no estilo musical da Broadway. Mas tem dias em que é simplesmente impossível entender por que eu escolhi morar sozinha longe da família e de todas as pessoas que amo. Qual o sentido de me forçar a enfrentar a solidão todos os dias?

O grande ponto é que ninguém nunca vai realmente entender a sua saudade. Lembro muito bem da conversa que tive com meu pai no momento em que disse que tinha comprado a passagem para passar férias no Brasil. Paguei tão caro, mas tão caro, que ele não se conformava com o porquê de eu ter escolhido justo a época de Natal e Ano Novo. "Com todo esse dinheiro você poderia passar férias de luxo em Paris!", ele disse.  E ele tem razão, é claro, mas a questão é que eu não queria Paris, eu queria a minha família. 

Eu queria voltar pra casa no calor de mais de 30 graus e reclamar que a minha mãe não deixa a gente ter mais ventiladores porque ela não gosta de vento. Eu queria rever meus amigos da escola e fazer as mesmas piadas que a gente faz desde 2006. Eu queria que meu avô fosse me buscar no aeroporto e pedisse pra levar a minha mala, porque assim ele finge que está indo viajar. Eu queria ganhar aquele abraço de urso que só meu irmão sabe dar e 5 minutos depois brigar com ele pelo controle remoto da tv. 

Eu que tanto me apaixonei por Ibiza, Hvar, Barbados e tantas outras ilhas paradisíacas, queria ir pro Guarujá e admirar aquele mar que já foi tantas vezes classificado como impróprio para banho. Eu queria, mesmo que só por 15 dias, saber que o meu lar ainda existe e que eu sempre vou ter para onde voltar. Mesmo que a minha escolha seja não voltar nunca mais.  Nunca mais?

Pois é. Por mais que eu ame tudo isso, meu coração me diz todos os dias que eu preciso continuar viajando. Que meu lar, meu porto seguro, sempre vai ser minha lembrança favorita, mas não minha realidade diária. 

Ainda que eu esteja sentada na frente do meu velho computador, já não sei muito bem digitar em um teclado brasileiro. Aquele travesseiro que eu tanto gostava agora me dá dor no pescoço. Mas, acima de tudo, porque enquanto eu estava em um jantar com meus amigos, meu celular apitou mostrando que um dos meus aplicativos favoritos havia encontrado passagens absurdamente baratas pra outro dos meus destinos-desejo e eu não pude me conter. Comprei os bilhetes, porque eu sei que a minha jornada ainda não acabou. 

 Agora, no fim do mês, embarco de volta para meu novo lar. Já prevejo as lágrimas e soluços no aeroporto, as promessas de ligar pra casa com mais frequência e os convites para que, por favor, eles também venham me visitar. 

Porque a saudade mais uma vez vai embarcar comigo e não acho que ela vá largar do meu pé tão cedo, mas acho que a vida é assim mesmo, não é? Uma mistura de nostalgia da infância e vontade de crescer que acompanham a gente durante todo o caminho, nos fazendo tropeçar às vezes, mas sempre forçando o próximo passo. 

O meu será em direção ao portão de embarque, já que, por sorte, também tenho alguém me esperando no próximo aeroporto pra seguir viagem comigo. E assim, deixando um pedacinho do meu coração em cada lugar que passei, vou preenchendo a minha alma com o amor de todos que deixei pra trás.

Será que ainda é muito cedo pra planejar a próxima visita?



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