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Turismo consciente: somos viajantes responsáveis?

No último ano fiz viagens incríveis. Muito mais que os lugares, o que me marcou foi uma reflexão: qual é meu impacto como viajante?

5min

Viajante Luísa Ferreira

Sempre pensei em viagens como muito mais que momentos de lazer. Viajar, pra mim, foi (e é) terapia. Meus intercâmbios serviram como “tratamento de choque” pra lidar com um medo gigante do desconhecido, além de me ajudar a me conhecer melhor, superar preconceitos e aprender sobre o mundo. 

Com o tempo, e especialmente este ano, comecei a pensar mais sobre o outro lado dessa moeda. 

Viagens têm o potencial de provocar grandes transformações em quem se permite abrir a mente? Sim. Mas além de nós, viajantes, elas também podem transformar as comunidades aonde vamos, e nem sempre essas mudanças são positivas.

1. Efeitos negativos do turismo

O turismo tem, por exemplo, um impacto considerável no aquecimento global, sendo responsável por 8% de todas as emissões de carbono no mundo. Além disso, pode sobrecarregar lugares que recebem muito mais pessoas por dia do que podem suportar. Alguns exemplos são Dubrovnik, na Croácia, Veneza, na Itália, e Machu Picchu, no Peru.

Outro problema são os possíveis desequilíbrios econômicos, como no caso de aluguéis que ficam mais altos devido à procura dos turistas e forçam a saída dos moradores do lugar. 

É o caso de Barcelona, por exemplo, onde essa questão dos aluguéis é uma das principais queixas e facilmente se encontram pichações nos muros que dizem "turistas, voltem pra casa”.


Barcelona

Sem falar nas práticas nocivas que provocam maus tratos ou estresse a animais, como nadar com golfinhos, andar em elefantes e a maioria das atividades que promovem contato direto com os bichos, especialmente fora do seu ambiente natural. 

2. O que podemos fazer?

Muitos desses problemas poderiam ser solucionados com a criação de regulamentações pra limitar o fluxo de turistas e exigir responsabilidade das empresas do setor. 

Companhias que lucram com o turismo deveriam, afinal, não só provocar o mínimo de impacto possível, mas também se esforçar pra contribuir com o lugar onde estão inseridas.

Mas não adianta terceirizar a responsabilidade toda, né? Nosso papel como viajantes também deve ser sempre repensado.


Viajante em cachoeira

Pesquisar sobre os passeios que queremos fazer e seus possíveis impactos, adotar práticas sustentáveis como viajantes, dar preferência a transportes coletivos e consumir produtos da época e produzidos localmente são exemplos de atitudes individuais que podem fazer diferença.

Assim como usar garrafa d'água e sacolas reutilizáveis, jamais deixar lixo em lugares inadequados, evitar compras desnecessárias, não interferir com a natureza e economizar água e energia. 

Na mesma linha, evitar participar de programas de trabalho voluntário em viagens que prejudiquem as populações, especialmente quando houver crianças envolvidas.

O conceito de turismo sustentável já estava presente na minha cabeça e no meu discurso há um tempinho, assim como meu interesse por turismo de base comunitária, que acho uma das coisas mais fantásticas.

Só que depois de me estabelecer como location independent e assumir "de vez" que viagens são uma parte fundamental do meu estilo de vida, essa chavinha virou mais que nunca. Acho que esse é um caminho sem volta.

3. Questionar, questionar e questionar mais um pouco

Nem sempre existe, como frequentemente acontece nessa vida, “preto no branco”. Ou seja: muitas situações são claramente erradas, enquanto outras exigem um entendimento mais profundo das implicações por trás e levantam debates sem conclusão certa.

Mas acredito que faz uma diferença gigante a gente simplesmente se perguntar: por que estou fazendo isso?

Veja também: Turismo acessível: o papel das viagens na democratização dos direitos


Luísa curtindo o tempo livre andando de bicicleta

Será que minha motivação pra essa viagem é acrescentar uma cidade ou país à minha lista de lugares visitados? Será que quero ultrapassar os limites demarcados ou pagar por uma atividade questionável só pra ter fotos bonitas pra mostrar aos outros?

Será que estou achando que vão me ver como alguém descolado por estar fazendo tal atividade, ou esperando que admirem meu estilo de vida? Será que escolhi esse destino ou hotel pelo status atrelado a ele?

Será que estou ajudando mais essa comunidade com um trabalho voluntário que não sou capacitado pra fazer do que estaria ao consumir produtos de microempreendedores locais, por exemplo?

Será que vou ficar mais feliz conhecendo 10 cidades em 20 dias que curtindo melhor poucos destinos? Será que “bater ponto” em museus e monumentos sem nem saber muito bem do que se tratam é mais importante pra mim que entender como as pessoas vivem no lugar e trocar experiências com elas?

Será que posso fazer alguma coisa pra reduzir os possíveis efeitos nocivos da minha presença, como coletar lixo jogado por outros turistas ou compartilhar com outras pessoas o que aprendi sobre abusos cometidos naquele lugar? Será, será, será?


Lugares que recebem muitos turistas podem s eprejudicas

É doloroso e trabalhoso se questionar o tempo todo. É chato não poder relaxar 100% e fazer o que der vontade durante as merecidas férias. E é impossível, acredito, ter impacto zero na sociedade em que vivemos.

Também é difícil evoluir simultaneamente em todos os âmbitos da vida, né? Poderíamos, por exemplo, estender essa discussão pra temas como veganismo, feminismo e tantos outros relacionados. Tá tudo interconectado e penso que estamos todos nesse mundo pra aprender e evoluir de acordo com nossas possibilidades.

4. Possíveis alternativas

Felizmente, existem mais e mais iniciativas de turismo ecológico, criativo, responsável, consciente, comunitário, “de experiência”, afrocentrado e companhia. 

Essas e outras denominações são usadas pra descrever propostas turísticas que se baseiam numa relação com as viagens que vá além da lógica de consumo com a qual estamos acostumados. Quanto mais valor a gente der a elas, mais populares elas devem ficar.

Viajar através de plataformas como a Worldpackers, por exemplo, me parece uma ótima forma de nadar contra a visão do turismo como mero consumo e repensar nossa visão como viajantes praticando um consumo mais responsável.

Continue lendo sobre o assunto: O que é staycation: viva experiências de turismo perto de sua casa


Voluntariado em hostel  é uma forma de turismo consciente 

Por isso, sempre digo que a maior vantagem da troca de trabalho por hospedagem não é, pra mim, a questão econômica, e sim o potencial positivo da experiência pra todos os envolvidos. Sempre, é claro, que feita com consciência e respeito, levando em consideração os direitos e deveres do voluntário e do anfitrião.

Acredito que ao passar mais tempo em cada lugar, contribuir pra algum empreendimento local e tentar entender a cultura e o dia a dia dos habitantes, podemos aprender muito mais que simplesmente batendo ponto em cartões postais.

Ao mesmo tempo, penso que viajar de forma mais lenta e integrada aos destinos tem o potencial de trazer muito mais vantagens e menos impactos negativos pra as comunidades locais. 

E você, o que pensa sobre tudo isso? Não tenho respostas prontas, mas acho que de pouquinho em pouquinho, de reflexão em reflexão, podemos fazer nossa parte pra que o turismo seja muito mais uma força positiva, agregadora e descortinadora de horizontes do que um motor de destruição.  



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