Turismo voluntário: o que você precisa saber antes de postar

A ideia do turismo voluntário no exterior é ajudar a mudar o mundo para melhor. Quem vai, volta cheio histórias. Esse texto é sobre como contá-las.

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Turismo voluntário não é auto promoção

Assisti um vídeo, completamente irônico, chamado “Como ganhar mais likes nas redes sociais” que me deixou pensando sobre o turismo voluntário. Ele foi produzido pela Radi-Aid, um projeto da organização solidária de estudantes e acadêmicos na Noruega (SAIH) e pelo perfil @barbiesavior, que conta a jornada de uma Barbie na África, ressaltando condutas babacas de voluntários.

Uma simples foto, uma hashtag ou texto seu pode perpetuar estereótipos e ferir a privacidade de outra pessoa. É isso que torna ter um código ético a seguir para quem quer ser voluntário tão essencial. Retratar outras pessoas como frágeis,desamparadas e infelizes é um desserviço ao empoderamento delas e está fora de moda. 

1. Turismo voluntário no exterior

Existem dois caminhos. O primeiro é utilizar uma linguagem que aproxima e o segundo é uma que reforça estereótipos. Os preconceitos deixam as coisas como estão, logo, de que adianta cruzar o globo para fazer mais do mesmo?

Ser voluntário vai mudar sua vida. Ao mesmo tempo que faz algo significativo, você conhece um mundo diferente. Espero deixar mais claro com esse post como comunicar sua experiência para o mundo. Inclusive, aqui estão 15 oportunidades para você começar a se planejar. 

2. Guia para ser voluntário

O problema não está em postar a foto em si. Veja, é possível ajudar aquela comunidade compartilhando suas lutas e seus problemas socioambientais nas redes. Você tem uma ferramenta muito poderosa em sua mão para divulgar o propósito da ONG, valorizar culturas tradicionais e acordar outras pessoas para a causa.

Pensando nisso, A Raid-Aid e o perfil da Barbie Savior lançaram um Guia de comportamento nas mídias sociais para voluntários e viajantes. Ele se chama “Como comunicar o mundo” e conta com quatro princípios indispensáveis e um checklist completo para ser consultado antes de postar aquela selfie ou texto do seu turismo voluntário.

Veja mais: 12 práticas sustentáveis para adotar na sua próxima viagem e Consumo responsável: Como reduzir nossos impactos como viajantes?

Turismo voluntário pode mudar vidas, inclusive a sua

Depois de ler esse post, não tem mais desculpa, hein?

3. Como se comunicar com o mundo

1º Princípio: Promova a Dignidade

Evite usar palavras que desmoralizem ou propaguem estereótipos. Não generalize um povo inteiro, grupos, culturas ou países. Lembre-se: pessoas não são atrações turísticas.

2º Princípio: Consentimento

O consentimento é o elemento chave para um retrato responsável dos outros nas redes sociais. Respeite a privacidade alheia, peça permissão e conte o que você pretende fazer com o material.

Evite fotografar pessoas doentes ou em hospitais. Foto de crianças? Pergunte a elas e também aos seus pais.

Cuidado com as selfies que podem ser ofensivas durante o turismo voluntariado

3º Princípio: Questione suas intenções

Ficou em dúvida sobre “postar ou não postar” uma foto do seu turismo voluntário? Não poste se você estiver em busca de likes ou for o centro da questão.

4º Princípio: Use a oportunidade para quebrar estereótipos

Use a chance de ser voluntário para contar aos seus amigos uma história que ainda não foi contada. Valorize a solidariedade e a conexão. Uma boa forma de fazer isso é conhecer a trajetória das pessoas e perguntar o que eles gostariam de contar para o mundo. 

Você pode se interessar: Turismo acessível: o papel das viagens na democratização dos direitos

4. Checklist do turismo voluntário

Consulte antes de postar algo nas redes:

  • Me perguntei “Qual minha intenção compartilhando esse post?”;
  • Ganhei consentimento da pessoa da foto ou dela e de um responsável;
  • Sei o nome e a história da pessoa retratada;
  • Ofereci uma cópia do material para a pessoa;
  • Evitei generalizações e inclui informações úteis;
  • Tive respeito pelas diferentes culturas e tradições;
  • Me perguntei se eu gostaria de ser retratada(o) da mesma maneira;
  • Evitei retratar pessoas em situações sensíveis, vulneráveis ou em hospitais e clínicas;
  • Não me coloquei como o herói da história;
  • Desafiei minhas percepções e quebrei estereótipos.

5. Radi-Aid Awards

A SAIH ainda apoia o Radi-Aid Awards, uma votação que entrega o prêmio “Golden Radiator” (aquecedor de ouro) para as melhores e o “Rusty Radiator” (aquecedor enferrujado) para as piores campanhas de arrecadação de fundos feitas por ONGs e projetos sociais.

O tema desses prêmios, aquecedores, vem de outra campanha irônica financiada pela organização, onde africanos se unem para levar aquecedores para noruegueses, fazendo um alerta sobre os perigos do frio e o sofrimento dos europeus. 

Prêmio Rusty Radiator

Os ganhadores do Rusty Radiator contam com uma trilha sonora bem depressiva e crianças extremamente magras, doentes e até chorando. Passam, inconscientemente, uma mensagem de que só um doador de fora pode salvar essas crianças. Sabe quem ganhou essa desgraça em 2017? O cantor Ed Sheeran, com esse vídeo.

Prêmio Golden Radiator

Agora, os ganhadores do Golden Radiator dão um show de exemplos bacanas sobre como olhar para outras culturas e ser voluntário. Isso não faz, de forma alguma, que a campanha tenha menos impacto, ela só é mais inteligente e responsável mesmo.

Sabe quem ganhou essa belezura? O próprio Batman!

6. Sola no Mundo

Antes mesmo de conhecer a Raid-Aid criei um projeto pensando nos quatro princípios desse guia. Compartilho das mesma inquietações e hoje, todos os meus textos, fotos e vídeos passam pela Checklist deles.

O que eu percebi em minha experiência, ao ser voluntária, é que, criar uma conexão real com a pessoa que te contou uma história faz parte de tudo isso.

Acredito que trabalhos como este, da Raid-Aid, podem mudar para sempre a forma com que as pessoas produzem conteúdo sobre turismo voluntário para as redes.

Fontes: The Guardian, Saih e Raid-Aid.



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