O que aprendi depois de viajar e trabalhar por dois anos
Os prós e contras de trabalhar de qualquer lugar do mundo, sem salário fixo, sendo minha própria empresa.
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Faz exatamente dois anos que coloquei meu dedo na maquininha pra “bater ponto” pela última vez. No dia seguinte, acordei sem despertador - e sem chão. Li e-mails de despedida de colegas queridos e chorei até acabarem as lágrimas. Eu gostava da empresa, adorava o que fazia e tinha boas companhias. Não foi uma ruptura fácil, mas foi necessária.
Afinal, como diz o livro Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida, “a forma de arrependimento mais emocionalmente corrosiva ocorre quando deixamos de agir em relação a algo que é profundamente importante para nós”.
Era hora de agir em direção aos meus sonhos: ser location independent (ou seja, poder trabalhar de qualquer lugar do mundo, o que não é a mesma coisa que ser nômade digital) e me dedicar mais ao meu blog de viagens e outros projetos importantes pra mim.
1. Sobre gratidão
Sou jornalista e trabalhei em lugares tradicionais como assessorias de imprensa, redação de jornal e agência de marketing digital. Nos últimos dois anos, no entanto, meu tempo se dividiu entre o trabalho no blog, que criei em 2012, e freelas de planejamento e produção de conteúdo pra sites e redes sociais.
Nessa vida de empreendedora e freelancer, agradeço todos os dias por não precisar acordar cedo quase nunca (odeio), nem ficar presa em engarrafamentos todo dia (odeio mais ainda). Por poder fazer meus próprios horários e viajar sem esperar por feriados ou férias.
Mais do que isso, sou feliz por poder fazer o que amo e dedicar a maior parte do meu tempo pra meus próprios sonhos, e não os de outro alguém. Por outros tantos privilégios, como fazer escolhas que refletem meus valores e colocar minha criatividade à prova sem as limitações de chefes e clientes.
Privilégio: é preciso falar nisso. Porque essa história de “largar tudo pra seguir seu sonho” não é uma realidade factível pra milhões de pessoas mundo afora (e bem aqui na nossa esquina), que não têm nem as necessidades mais básicas atendidas. Também é muito mais fácil dentro da bolha de classe média “mente aberta” de que faço parte.
Ainda assim, não “larguei tudo”: resolvi, sim, investir em um projeto ao qual já vinha dedicando muitas horas da minha vida em paralelo ao emprego formal. Depois do pedido de demissão, dediquei ainda mais horas de trabalho sem certeza de retorno, mas repleta de motivação e paixão.
Consegui conversar sobre o que amo com muito mais gente, provocar reflexões e rever minhas próprias concepções. Recebi apoio de amigos, familiares e instituições que admiro. Conheci leitores e produtores de conteúdo incríveis, desenvolvi novas habilidades e alcancei várias metas que estabeleci.
Enquanto isso, fiz um monte de coisas que dificilmente faria na rotina de escritório. Visitei mais de 50 cidades e uns 15 novos países, inclusive através de work exchanges inesquecíveis. Repensei minha forma de viajar e me superei física e psicologicamente.
Fiz dezenas de amigos de diferentes partes do mundo, me aproximei de pessoas queridas que moram longe e fiz cursos que me abriram os olhos. Descobri várias partes de mim que não conhecia e tive muito mais qualidade de vida.
Por mais que seja infinitamente grata todos os dias, essa vida fora da caixinha da estabilidade tá longe de ser fácil.
Se você quer se aventurar pelo mundo como nômade digital e viver a vida com uma rotina diferente, além de diferentes tipos de voluntariado, a Worldpackers também oferece cursos onlines que vão te ajudar a ganhar uma grana extra enquanto viaja.
2. Sobre desafios
Sim, nos últimos dois anos eu fui MUITO feliz, mas também me questionei infinitas vezes, tive muitas dúvidas sobre que caminhos seguir e perdi o foco com frequência.
Custei a tirar vários projetos da gaveta - e muitos ainda estão lá. Penei pra conciliar a vontade de estar sempre na estrada com meu apreço pela rotina (desde que determinada por mim).
Perdi o sono pensando no que priorizar e em quais passos dar, me preocupei com dinheiro e desejei não precisar decidir tudo sozinha.
Me culpei por não conseguir ser tão produtiva viajando quanto em casa. Me comparei com outras pessoas mais vezes do que posso contar e pensei muito mais no que ainda não realizei do que em tudo que já alcancei.
Dediquei muitas horas a formular orçamentos, fazer cobranças, responder a propostas que não foram a lugar algum, emitir notas fiscais, calcular e recalcular minhas reservas financeiras e outras tantas tarefas burocráticas que pouco têm a ver com o “core” do meu negócio.
Passei dois aniversários longe de casa e perdi muitas celebrações de pessoas queridas. Tive que dizer “não” pra vários rolês pra me dedicar ao trabalho infinito que é ser uma “eupresa” e pra economizar grana. Tive, como em tudo na vida, que fazer renúncias.
3. Sobre sucesso
Se você me perguntar se toda essa montanha-russa emocional tem valido a pena, não vou pensar nem um segundo antes de responder: mais do que qualquer coisa que já fiz na vida.
Vale a pena pela liberdade, pelo prazer de ser dona do meu tempo, pelas experiências incríveis que vivi mundo afora, pela certeza de que a vida é muito mais cheia de possibilidades do que nos fazem crer e, acima de tudo, pelo tanto que aprendi.
Depois de dois anos de muitas viagens e muito trabalho, consegui alcançar uma renda média superior à que tinha no mercado de trabalho tradicional. Mais do que isso: consegui ter mais clareza sobre meu propósito, sobre minha definição de sucesso e sobre quem quero ser. Que venham os próximos desafios!
Se você tem interesse em, assim como eu, viver viajando e trabalhando com a produção de conteúdo, uma recomendação é fazer o curso de como criar e monetizar um blog de viagens que a Worldpackers Academy tem. Com certeza irá te ajudar muito com dicas para começar a produzir conteúdos de viagem e ganhar uma grana escrevendo textos!
Allan
Dez 25, 2018
Que texto! Obrigado por compartilhar 🙏🏻
Franciele
Dez 25, 2018
Nossaaaa tô impactada com seu texto e sua forma de escreve com clareza e expressando bem.os sentimentos. Me deu uma idéia, certa clareza sobre como viver como ND. Penso muito em muitas coisas das quais mencionou. Mas ainda não tenho a coragem que vc teve. Parabéns
Nathalia
Dez 27, 2018
Que inspiração meu deus, acho que era isso que eu estava precisando ler hoje! Parabéns por todas as escolhas que fez, parabéns pela coragem e determinação! Já estou te seguindo no insta pra te acompanhar mais de pertinho e sentir essa sua energia mais vezes! Abração e muito mais sucesso pra ti!
Felipe
Dez 28, 2018
Parabéns! Texto inspirador. Estou tentando seguir o mesmo caminho.
Mariana
Jan 02, 2019
Amei sua história. Acho que a vida se torna muito mais interessante quando buscamos o que nos faz vibrar. Estou iniciando nesse movimento. Gratidão por compartilhar sua experiência de vida. 🙏
Marriel
Jan 02, 2019
Bom dia, primeiramente amei conhecer esse vida de nômade digital, ainda mais que também sou formado na área de comunicação - especializado em jornalismo. Minha área é mais voltada a mídias sociais, então por isso gostei bastante de ser sua trajetória de 2 anos nessa "nova vida". Já conversei até mesmo com pessoas que vivem só de voluntariado nessa mesma faixa de tempo que você, mas tenho muitas dúvidas de como me manter e como vai ser isso. Já li alguns artigos desde o ano passado e tenho pensando em separar alguns hosteis e tentar vagas na minha área. Principalmente seria apenas no Brasil pois estou olhando a situação do meu passaporte. O que mais você tem a dizer sobre: Já que é algo que tenho olhado há um certo tempo, devo ir de cabeça e ligar mesmo para esses hosteis? Tem alguns que você em indica pra começar? Tem outros locais além de hosteis que você me indica trabalhar na área de mídias? Gostaria muito de falar contigo sobre. Desde já agradeço pelo belo texto e por sua compreensão. Abraços!
Jorge
Jan 26, 2021
Prezada Luísa, que menina de coragem que, felicidade conseguir a sua liberdade sempre voando para algures, por ser uma mulher admiro ainda mais a sua decisão de caminhar só para onde seu espirito te levar, eu sempre viajei pelo mundo sem ter dinheiro, com 32 anos decidi como voce alçar voo sem retorno, comprei uma passagem só de ida no cartão para pagar em 12 vezes na minha primeira experiência fora do país. minha primeira parada foi em Portugal em 1988, em uma semana ja estava trabalhando, foram 10 anos conhecendo de norte a sul desde Valencia divisa da Espanha, até o Algarve, proximo voo para Madrid, depois França, Alemanha, Luxemburgo. Viajei para o Japão vivi em Gotemba, Chizuoka. Em 2008 cheguei no Chile e agora estou de volta só para me inscrever e começar nova caminhada na World Packers,
pois pretendo trabalhar e conhecer os recantos incríveis do nosso país e sem gastar nada pois sou idoso e quero continuar ativo trabalhando para viver.