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Eu mudei e isso não tem volta: comecei meu mochilão pelo Brasil

Pedi demissão. Dia 11 de abril de 2019. No início do aviso prévio ainda buscava outro trabalho, mas um dia acordei com uma ideia: e se em vez de procurar trabalho não começo um mochilão pelo Brasil?

8min

mochilao pelo brasil depois da demissao

Em Maio de 2017 fui contratada como assistente de marketing digital em uma boate no Rio. Inicialmente fazia home office, mas depois de seis meses me convidaram pra trabalhar no escritório. Aumentou o salário, os gastos, as horas e claro, o estresse. A boate tinha que encher. Todo fim de semana o que importava eram os números e apesar de só trabalhar de segunda a sexta, eu passava as noites de sexta e sábado em claro acompanhando a lotação da casa.

Foram 2 anos nesse ritmo e a cada dia a pressão só aumentava. Depois de 1 ano e meio, finalmente tirei férias. Planejei uma viagem de 15 dias para o Chile. Passei por:

Foram dias incríveis, mas férias têm prazo de validade e logo eu estava de volta a rotina. Em vez retornar ao trabalho renovada e cheia de gás, voltei ainda mais desmotivada.

Naquele momento eu não sabia o que queria, mas continuar no mesmo emprego era uma certeza do que não queria. Comecei a procurar outro emprego. Mandei currículo, fui a uma ou outra entrevista e nada. Os dias foram passando e a vontade de sair só aumentava. Passei a ter insônia, ansiedade e não tinha nenhuma vontade de sair de casa, chegava no trabalho já contando as horas pra sair e rezando para aquilo acabar.

Um dia não aguentei. Depois de muito me esforçar pra continuar lá, depois de muito ouvir as opiniões de cada pessoa com quem eu conversava e saber por elas que seria louca se saísse sem ter nada em vista, pedi demissão. Dia 11 de abril de 2019.

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Como pedi demissão para começar meu mochilão pelo Brasil

Conversei com meus chefes, fiz um acordo, prometi ficar por mais um mês até que contratássemos outra pessoa e em 10 de maio trabalhei pela última vez nessa empresa. Naquele momento não tinha nada. Sabia que se não encontrasse outro trabalho teria que abrir mão do meu apartamento e voltar a morar com meus pais. 

Isso era o que mais me angustiava. Saí de casa tarde, com 26 anos e desde nova esse era o meu maior sonho, ter meu espaço, minha independência, minha rotina. Apenas 2 anos depois estava me vendo prestes a voltar pra tudo que acreditava ter deixado pra trás.

Não me entendam mal, não há nada de ruim com a minha família, pelo contrário, sempre me apoiaram e estiveram ao meu lado, sair da casa deles e encarar o mundo nem foi tão difícil porque no fundo sabia que se nada desse certo, eu tinha pra onde voltar. Só que eu não queria. Voltar não era uma opção. Era uma possibilidade, mas uma que não aconteceria.

No início do aviso prévio ainda estava buscando outro trabalho, mas um dia acordei com uma ideia: e se em vez de procurar trabalho não começo um mochilão? Receberia uma quantia de rescisão, já conhecia a Worldpackers, sabia que haviam formas  e lugares para viajar mais barato e se economizasse bastante, talvez essa grana durasse até 1 ano.

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Mochilão pelo Brasil: planejando meu roteiro

Comecei a pesquisar lugares pelo Brasil que gostaria de conhecer e fiz um planejamento rápido, de mochila nas costas, passaria por todos os estados brasileiros, fazendo voluntariado, gastando pouco, andando de ônibus ou pegando carona.

Meu mochilão pelo Brasil começou por Brasília, queria conhecer a Chapada dos Veadeiros e todas as suas cachoeiras que ficam em Goiás, bem perto de lá, mas como tenho uma prima em Brasília, passei uns dias com ela enquanto conhecia a capital do Brasil.

Uma semana depois estava indo pra Alto Paraíso de Goiás, onde fica a Chapada dos Veadeiros. Agora sim a aventura estava começando! Seria minha primeira experiência como voluntária no Brasil, primeira vez que saia sozinha sem data pra voltar, primeira vez que não sabia qual seria meu próximo destino. Só sabia que não seria o Rio e que esse era o começo de uma longa jornada. 

Em Alto Paraíso fui para o Camping e Hostel Brazil Backpackers. Eramos 4 na equipe, Bati, uma argentina incrível, superlegal, cheia de experiências de vida e viagem, nos conectamos instantaneamente. Gil, brasileiro, paulista, guia de turismo procurado um lugar pra começar um novo negócio, Wagner, o dono do hostel, aposentado de uma vida inteira como agente penitenciário, encontrou refúgio e tranquilidade na Chapada. E eu, 28 anos, recém-saída de um trabalho que não gostava, tentando encontrar sentido pra vida.

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A experiência real de ser voluntária no mochilão pelo Brasil

Passei um mês em Alto Paraíso, mas não se engane, não foi um mês indo pra cá e pra lá todos os dias, conhecendo tudo a minha volta. Foi tranquilo, fazia alguns passeios, conhecia pessoas diferentes, às vezes tão legais que dava vontade de estar junto, beber, sair… outras nem tanto. Mas a verdade é que todos sempre têm algo para te ensinar. Seja uma dica de um lugar novo, uma comida, uma ideia, um filme, um livro.

Se for comunicativo o suficiente para passar do primeiro contato e quiser saber um pouco mais que o nome das pessoas e de onde elas vêm, vai descobrir que todo mundo sabe mais que você sobre algum assunto. Isso é o que mais gosto de viver. Mais que lugares lindos e paradisíacos, mais que as fotos compartilhadas no Instagram, reconhecer que cada pessoa é um universo imenso e saber o quanto se pode aprender viajando pelo Brasil é o mais legal.

A Bati por exemplo, é uma excelente cozinheira, não come carne e apesar de não ser vegana, faz muitas coisas sem usar nada de origem animal. No tempo em que passei com ela aprendi a ter uma alimentação totalmente diferente. Não cozinhava carne. Fazíamos bolinhos de grão-de-bico ou feijão, lasanha de abobrinha, pão caseiro, empanadas de vegetais. Bati me ensinou um monte de coisas na cozinha e trocávamos tantas ideias sobre a vida que podíamos ficar dias e dias conversando sem que os assuntos se esgotassem.

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Mochilão pelo Brasil: Goiás, Minas Gerais e Bahia

Mas um dia o mês de julho chegou ao fim e com ele acabavam meus dias em Goiás. O próximo destino seria Minas Gerais, mais precisamente Ibitipoca. Uma cidadezinha de 2000 habitantes que guarda um Parque Estadual cheio de cachoeiras, grutas e picos sensacionais. Ia passar 2 semanas, mas viraram 4. Estive lá em um momento em que não havia tantos turistas, passava os dias ajudando as donas do hostel na cozinha, pois também tinham um restaurante.

Lá aprendi que se você tem farinha, ovo e azeite, você tem lasanha. Adiciona um fermento e pode fazer pão, bolo, pizza… Conheci a galera local, comecei a fazer aula de francês, ia pra casa dos vizinhos tomar café ou um caldinho quente pra aguentar os dias frios.

Ibitipoca foi leve. Comida e prosa minera. Uma cachacinha no Bar do Firma. Trilhas pelo parque, jogo de cartas, muita comida e incontáveis novos amigos. Mas a viagem tinha que continuar. Segui em direção a Bahia. Estava com saudades do sol, do mar, do calor, de beber uma cerveja gelada depois de um dia de praia… A Bahia foi tudo isso e mais um pouco. Passei por:

Até hoje não superei, ainda volto. Talvez faça uma viagem só pra conhecer a Bahia de ponta a ponta.

Inspiração na estrada: Mulheres que viajam sozinhas 

Saindo da Bahia passei por Aracajú, depois Maceió, onde fiquei mais um mês conhecendo um dos litorais mais lindos do Brasil. Foi também onde conheci algumas mulheres viajantes, independentes e empoderadas. Aline, Camila, Larissa, Mari e Pipi. Com elas dei muita risada, regada a cerveja e comida caseira. Nelas me inspirei ainda mais. Estar cercada de mulheres que saem por aí em busca dos seus sonhos é empoderador. 

A gente aprende ou confirma que podemos fazer o que queremos e ninguém pode dizer o contrário.

Atualmente estou em Pipa, RN. Por aqui pretendo ficar até fevereiro. Estou trabalhando de garçonete em um restaurante e a ideia é juntar uma grana para no próximo ano continuar a viagem fora do Brasil.

Em dezembro faz 6 meses que saí do Rio. Na ocasião não tinha certeza de nada. Não tinha dinheiro guardado, não tinha planos e não tinha uma direção traçada. A ideia de conhecer todos os estados do Brasil caiu por terra no segundo mês, quando pulei o Espirito Santo, agora pulei também Pernambuco e Paraíba

Nada contra esses lugares, pelo contrário, quero muito poder voltar e conhecer, mas quando se está fazendo uma viagem longa, as coisas vão saindo do seu controle e tomam outras formas. A ideia inicial passa a não fazer tanto sentido. Às vezes você quer chegar logo em um lugar, em outras quer ficar por mais tempo onde antes não pretendia.

Um lugar onde todos dizem que é sensacional pode não ser assim tão legal pra você, outros vão ser tão incríveis que você vai ter dificuldade de seguir em frente. A verdade é que quando se planeja tudo nos mínimos detalhes, perde-se a espontaneidade. Perde-se a chance de deixar que coisas inesperadas aconteçam. Fica mais difícil mudar de ideia e se abrir para o desconhecido.

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Fazer um mochilão pelo Brasil mudou minha vida

6 meses depois de sair de casa só tenho uma certeza. Não quero voltar pra aquela vida em que fazia as mesmas coisas, frequentava os mesmos lugares, andava com as mesmas pessoas. O mundo é imenso, cheio de possibilidades e novos aprendizados. Não encontrei o que saí pra procurar, mas encontrei muito mais que isso. Encontrei o que não sabia que precisava. Encontrei novos interesses, aprendi coisas novas, ensinei muito também. Quando você sai da sua zona de conforto descobre o quanto da vida estava perdendo por não arriscar um pouco que seja.

Gosto de pensar que não importa o que aconteça, mesmo que volte a viver no Rio, mesmo que nada por lá tenha mudado:

Eu mudei e isso não tem volta. Conhecer e aprender coisas novas é a coisa mais incrível que pude fazer por mim mesma. 

Não estou aqui falando que todo mundo tem que jogar tudo pro alto e sair por aí sem destino, mas se você não está feliz, se não consegue suportar sua rotina, por que não tentar algo novo? Se você não se arriscar, ninguém vai arriscar por você, nada vai mudar e sua vida vai passar sem que tenha aproveitado o que ela tinha pra oferecer. Se joga!  Viaje pelo Brasil também, leia: 




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